quarta-feira, junho 21, 2006

Trizliz

"Será que ela está lá em cima? Será que ela está à minha espera? E se tiver, o que é que eu faço? Ofereço o Trizliz e peço-lhe uma dança... Será que ela gosta de mim sem o Trizliz? Tenho de acreditar que ela gosta de mim. Afinal, o Trizliz não nascia se ela não existisse."

Os pensamentos de Jasme atormentavam-no. Quando pensa em Duma, nunca respondia, só perguntava. Perguntas e mais perguntas em cima de outras perguntas. Mas nunca encontrava a resposta.

"Precisava tanto de falar com o Gestus. É sempre a mesma coisa, precisamos de falar com as pessoas que vivem dentro de nós quando estão longe. Logo agora, que foi para as sementeiras do ValeMoinhos. Ainda por cima, tem os dedos tão pequenos que nem para furar buraco para semente serve. Volta, Gestus, por favor..."

Jasme com pensamentos e os pensamentos do Jasme. Quem mandava em quem, ninguém sabia. Mas de certeza que o Trizliz não era sonho de se intrometer em pensamentos alheios.
Trizliz é o sonho de Jasme. É o sonho que nasce quando Jasme vê Duma lá no alto dos Montes Vailaih, a dançar por cima das três flores, como se fosse uma pétala, sem tocar na água que cai do Sol.

terça-feira, junho 20, 2006

Tique-Taque

- Olha lá, falaste com eles lá em cima?
- Lá em cima?! Não quererás dizer: olha lá, falaste com eles lá em baixo? Não te esqueças que agora és uma vela de mar ao vento. E os novelos dos braços do Jasme são agora Joelhos.
- Deve estar a parecer-me que estou a falar com o Tique-Taque. Lá em cima, lá em baixo, lá em cima...
- Falaste ou não?!
- Ora pois claro que falei. Se ele pensa que faz o pino sem nos consultar primeiro, está muito enganado.
- É um estremunhado, isso é que ele é!
- Está bem, está bem, estremunhado ou não, ouve mas é a combinação: quando chegarmos à curva Poça Torta, os novelos Cotovelos dobram ao contrário...
- Como as avestruzes?
- Como as avestruzes?! Foste lembrar-te das avestruzes vá se lá saber porquê. Como os Velicros, isso sim!
- Mas os Velicros migraram...
- Às vezes penso que devia ter nascido Calcanha de Pedra. Pelo menos, ouvia o silêncio das pedras, em vez das tuas parvoíces de perguntas cheias de...de...
- ...cheias de estapa...
- Estapafúrdias!
- Já estou a imaginar. O Jasme vai começar a andar tão depressa que tem de escavar terra com a cabeça para fazer de travão Piolim.
- Espero é que não encontre as toupeiras...

De olhos trocados e cabelos rente escovados, Jasme segue o seu caminho até ao topo do monte, sem pensar nas tramas dos meninos Cotovelos e Joelhos.
Mas esqueceram-se de um pormenor: as toupeiras.

segunda-feira, junho 19, 2006

Luzédia-Mar

O caminho das curvas dos Montes Vailaih é cansativo. Quer dizer, as pernas do Jasme é que gostam da preguiça. Curva para a direita, pernas para a esquerda. Curva para a esquerda, pernas para a direita.
- Vocês podem parar quietas um bocadinho? Assim nunca mais chego lá acima!
- Não gostas das curvas? Uihhhhhhh!!!
- Ainda por cima gozam... Só por causa disso, vão ficar de castigo. Vou fazer o pino!
E lá foi ele, de pernas ao léu, de braços no chão. E de olhos trocados.